Visão Geral da Seção: Nesta seção, a Dra. Andrea Migliano discute os critérios para definir uma cultura de caçadores-coletores e como essas culturas influenciaram a biologia humana. Ela também explora o impacto da agricultura nas estruturas sociais e na territorialidade.
Definindo culturas caçadoras-coletoras
- Culturas caçadoras-coletoras são populações que viviam da caça, pesca e coleta antes da invenção da agricultura.
- Essas populações enfrentam pressões seletivas diferentes daquelas que praticam a agricultura.
- O estudo das culturas de caçadores-coletores fornece informações sobre as pressões seletivas que os humanos enfrentavam antes da agricultura em larga escala.
Impacto da Agricultura nas Estruturas Sociais
- A agricultura levou a uma maior territorialidade, guerras com populações vizinhas e poligamia.
- Os caçadores-coletores seriam mais igualitários porque não tinham um território fixo para defender.
- A evolução das estruturas sociais é uma distinção importante entre caçadores-coletores e sociedades agrícolas.
Estudando culturas de caçadores-coletores
- A antropologia biológica usa técnicas quantitativas para estudar culturas de caçadores-coletores.
- Os estudos etnográficos envolvem a convivência com uma população para entender seu modo de vida.
Visão geral da seção: Nesta seção, a pesquisadora discute como humanos e primatas têm reprodução cooperativa, semelhante aos saguis do norte do Brasil. A pesquisadora explica que eles quantificam as interações entre os indivíduos usando dados de GPS para entender como cada fator influencia suas vidas.
Reprodução Cooperativa
- Humanos e primatas têm reprodução cooperativa.
- Saguis do norte do Brasil também exibem reprodução cooperativa.
- Quantifique as interações entre indivíduos usando dados de GPS.
- Entenda como cada fator influencia suas vidas.
Visão Geral da Seção: Nesta seção, a pesquisadora fala sobre as características da sociedade Agta. São caçadores-coletores que vivem em pequenos grupos de 30 a 50 pessoas. Eles dividem tudo igualmente entre si, inclusive os alimentos da caça e da coleta.
Características da Sociedade Agta
- Caçadores-coletores vivendo em pequenos grupos.
- Dividem tudo igualmente entre si.
- Vivem tanto na costa quanto nas florestas.
- As populações são altamente móveis.
Visão Geral da Seção: Nesta seção, a pesquisadora discute a igualdade entre sociedades de caçadores-coletores. Ela explica que todas as sociedades caçadoras-coletoras sobreviventes hoje são igualitárias, com estruturas sociais semelhantes às encontradas na África, nas Filipinas e na Amazônia.
Igualdade entre sociedades de caçadores-coletores
- Todas as sociedades caçadoras-coletoras sobreviventes hoje são igualitárias.
- Estruturas sociais semelhantes em diferentes regiões.
- Os tamanhos dos bandos variam, mas tendem a ser pequenos e fluidos.
- As redes são grandes, mas também fluidas.
Visão Geral da Seção: Nesta seção, Andrea Migliano fala sobre o impacto da ecologia no comportamento. Ela explica que existe um continuum quando se trata de sociedades de caçadores-coletores, sendo algumas mais complexas do que outras. Ela também menciona seu estudo sobre as populações agrícolas da Nova Guiné, altamente polígamas e com disputas territoriais.
Impacto da Ecologia no Comportamento
- É um continuum quando se trata de sociedades de caçadores-coletores.
- Alguns grupos são mais complexos do que outros.
- As populações agrícolas na Nova Guiné são altamente polígamas.
- Há disputas territoriais entre populações agrícolas.
Visão Geral da Seção: Nesta seção, a pesquisadora discute como os fatores ecológicos e evolutivos influenciaram os papéis de gênero nas sociedades humanas.
Divisão de gênero do trabalho
- As sociedades humanas têm uma divisão de trabalho entre homens e mulheres devido a restrições ecológicas.
- Esta divisão é necessária para a sobrevivência, pois permite a produção e reprodução de alimentos.
- A melhor estratégia para os homens de uma perspectiva biológica é investir em várias mulheres ao invés de uma criança. No entanto, restrições ecológicas, como recursos limitados, geralmente levam à monogamia.
- À medida que as sociedades faziam a transição da caça-coleção para a agricultura, alguns indivíduos conseguiam acumular mais recursos e sustentar várias famílias, levando à poliginia.
Influências culturais nos papéis de gênero
- Embora os fatores culturais também desempenhem um papel na formação dos papéis de gênero, os fatores ecológicos e evolutivos são considerações importantes.
- Existem muitas maneiras de se adaptar às pressões ambientais, mas é importante não ter preconceito contra diferentes adaptações que por constituem culturas.
- Pode ser difícil estudar questões de saúde mental como depressão em populações de caçadores-coletores porque conceitos como depressão podem não existir em determinadas culturas.
- Existem inúmeros desafios no processo de entender os sentimentos e suas expressões em culturas muito diferentes da nossa.
- Não existe muito contato entre as áreas.
- Antropólogos culturais possuem um preconceito quando o assunto é evolução biológica e costumam sempre associar a teoria evolutiva a questões negativas.
- Influência pós-moderna na antropologia cultural faz com que haja uma aversão a qualquer ideia de pesquisa com modelos quantitativos e estudo comparativo.
Visão Geral da Seção: Nesta seção, a pesquisadora discute a importância de olhar para os humanos de uma perspectiva evolutiva e como isso pode aumentar a plausibilidade dos estudos experimentais.
Importância da Perspectiva Evolutiva
- Estudar o comportamento de outras culturas pode nos ajudar a entender maior questões de incompatibilidade biológica que resultam em doenças.
- Olhar para os humanos de uma perspectiva evolutiva aumenta a plausibilidade dos estudos experimentais.
- Um dos entrevistadores estuda a corrida humana e traz uma perspectiva de nossa experiência com outros primatas.
- Ao estudar os humanos através de lentes evolutivas, podemos introduzir tratamentos para corredores que sejam biologicamente mais plausíveis.
Diferenças na fisicalidade
- A pesquisadora relata que observa uma diferença significativa na fisicalidade entre os humanos modernos e os caçadores-coletores.
- Os humanos modernos têm pés deformados devido ao uso de sapatos, enquanto caçadores-coletores têm musculatura e mobilidade muito mais fortes.
- Crianças de até quatro anos em sociedades de caçadores-coletores já estão subindo em árvores e remando em barcos, enquanto as crianças modernas lutam com essas atividades.
- A transição para a agricultura levou a resultados de saúde negativos para caçadores-coletores, como aumento das taxas de mortalidade, infecções e anemia devido a viver em um só lugar e comer alimentos de baixa qualidade.
- Saneamento passa a ser um problema com a perda de mobilidade.
- As mulheres aumentaram as taxas de fertilidade para compensar as taxas de mortalidade infantil.
- As mulheres estão bem representadas na área de estudo da pesquisadora, que inclui estudar caçadores-coletores e primatas.
- A pesquisadora cita a “hipótese das avós” da Kristen Hawkes como resultado dessa representatividade na área.
- Andrea Migliano diz ter dificuldade em encontrar alunos do sexo masculino para fazer o trabalho de campo, ela prefere grupos mistos para o trabalho de campo, mas muitas vezes tem dificuldade em montar esses grupos pela ausência de homens.
- O acúmulo de cultura é exclusivo dos humanos e se refere à capacidade de acumular conhecimento ao longo do tempo por meios culturais.
- A pesquisadora estuda a acumulação cultural comparando a sociabilidade humana com a dos primatas.
Capacidade de recombinar
- Os seres humanos têm uma capacidade impressionante de dividir tudo um com o outro e se especializar.
- A capacidade humana de recombinar é responsável pela evolução das tecnologias, como martelos que trilham com pedras e madeira até chegar às serras elétricas.
- A cooperação forte entre os seres humanos permite que eles compartilhem informações e combinem tecnologias para criar coisas mais complexas.
Comparação com primatas do Velho Mundo
- Os chimpanzés possuem algumas habilidades complexas, como fazer um aparato usando três peças para quebrar nozes. No entanto, eles não têm a mesma capacidade de recombinar tecnologias que os seres humanos.
- Dra. Andrea Migliano está estudando orangotangos, chimpanzés e gorilas para entender suas redes sociais e limitação na transmissão cultural. Ela sugere que essas restrições podem impedir o desenvolvimento da cultura complexa.
- Os seres humanos passaram por maior pressão seletiva, o que levou a uma diferenciação mais drástica quando comparados a outros primatas do velho mundo.
Evolução do Tamanho
- A entrevistada escolheu estudar o tamanho humano em seu doutorado para ver se ainda havia seleção natural agindo sobre os humanos.
- Ela mediu e pesou pigmeus nas Filipinas por um ano para ver se havia uma seleção natural que dessem vantagem para quem tivesse um corpo menor.
- Ela descobriu que era o oposto das tendências ecológicas - os pigmentos tinham menos filhos do que as populações de estatura maior.
Teoria da História da Vida
- A entrevistada descobriu que a diferença entre um animal grande e um animal pequeno está relacionada à teoria da história de vida.
- A teoria afirma que há uma troca entre diferentes características do ciclo de vida, como crescimento e reprodução.
- O ambiente de mortalidade ecológica faz com que você tenha que ajustar seu ciclo de vida - faça tudo rápido se você vive no ambiente inseguro ou invista mais tempo se você vive no ambiente seguro.
- Os pigmentos viviam em um ambiente com alta mortalidade, então tiveram que ajustar seu ciclo reprodutivo - cresceram por menos tempo e tiveram filhos cedo.
- A teoria da história da vida pode ser usada para entender a variabilidade humana em diferentes sociedades.
- A expectativa de vida nas sociedades de caçadores-coletores é geralmente baixa devido à mortalidade ecológica ou extrínseca causada por acidentes durante a caça, mergulho, subir em árvores para obter mel e infecções decorrentes da vida em ambientes tropicais.
- Numa transição para a agricultura, há uma tendência de aumento leve da expectativa de vida devido à sedentarização e à domesticação. No entanto, piora inicialmente porque surgem novos desafios.
- Em comparação com as populações ocidentais, a expectativa de vida entre os caçadores-coletores é muito baixa. Também é inferior ao da maioria dos agricultores que vivem como tais há muito tempo.
- Fatores de mortalidade como traumas e infecções são mais prevalentes entre caçadores-coletores do que doenças cardiovasculares que são comuns entre pessoas que vivem em cidades.
- A complexidade dentro das culturas depende da nossa definição de complexidade. A cultura material é mais simples entre os caçadores-coletores porque eles têm menos opções de troca de informações devido ao tamanho populacional menor.
- Isso não significa que sejam inferiores; em vez disso, eles se adaptam rapidamente a qualquer tecnologia quando necessário. O número de indivíduos limita o quanto pode ser trocado entre eles.
- Populações maiores tendem a ter mais complexidade e variação em comparação com as menores.
- A pesquisadora está desenvolvendo pesquisa comparativa da cultura material dos Agta com a cultura material de caçadores-coletores do Congo. Ela espera encontrar mais complexidade no Congo pois trata-se de uma população bem maior.
- Diferentes populações têm números variados de rituais, muitas vezes existe uma relação direta entre tamanho da população e quantidade de rituais existentes.
- Quando várias comunidades se reúnem, elas podem participar de um grande ritual onde todos dançam juntos. Esses rituais promovem a coesão do grupo, a coordenação dos movimentos e a sensação de bem-estar.
- Os Agtas quase não tem rituais.
- O tamanho de uma população e diferentes seleções ecológicas podem levar a maior ou menor complexidade nas práticas materiais e ritualísticas.
- Isso não reflete uma população sendo melhor ou pior do que outra; em vez disso, reflete as necessidades exclusivas de cada ambiente.
- Há uma tendência entre os antropólogos de idealizar sociedades de caçadores-coletores como utopias igualitárias.
- No entanto, essas sociedades não são perfeitas; ainda há competição por recursos.
- Embora exista compartilhamento dentro dessas sociedades, muitas vezes é baseado na demanda, e não em um compromisso ideológico com a igualdade.
Sensacionalismo da mídia
- A mídia muitas vezes sensacionaliza informações sobre sociedades de caçadores-coletores.
- Por exemplo, um artigo de jornal afirmava que as mulheres forçavam seus maridos a viver com suas sogras em uma dessas sociedades.
- A pesquisadora enfatiza a importância de apresentar informações precisas sobre essas sociedades e evitar o sensacionalismo.
Padrões de Comportamento Humano
- Embora as sociedades de caçadores-coletores não sejam inerentemente violentas, elas ainda estão sujeitas a padrões de comportamento humano que envolvem violência.
- Essas sociedades possuem suas próprias culturas e comportamentos específicos que refletem suas realidades históricas, ecológicas e materiais.
- É importante evitar romantizar ou demonizar essas sociedades e, em vez disso, apresentá-las como sistemas culturais complexos, cada qual com suas particularidades.
- O próprio infanticídio, muito comum em diversas culturas humanas, deve ser entendido do ponto de vista científico: “Existe uma estratégia adaptativa por trás disso?”.
- Dra. Andrea Migliano gosta muito de ler registros etnográficos antigos de culturas e práticas que não existem mais.
- Andrea cita registro etnográfico de uma cultura das Ilhas Andaman onde as crianças acima de 7 anos moram em casas que não são dos seus pais biológicos e como isso faz parte de uma estratégia de cooperação que favorece a sobrevivência dos indivíduos;
- É frustrante não ter mais muitas culturas para estudar e os registros etnográficos antigos não terem um foco muito quantitativo, por isso a entrevistada corre contra o tempo para fazer registro quantitativo das culturas caçadoras-coletoras ainda existentes no planeta.
- Culturas não são isoladas uma das outras, e antropólogos devem entender que culturas tradicionais podem escolher se integrarem a outras culturas.
- A entrevistada busca ajudar essas culturas tradicionais a se integrarem de forma digna às culturas mais industrializadas, já que muitas vezes governos locais tendem a tratá-las como culturas primitiva e atrasadas.
- Dra. Andrea Migliano fala que sociedades caçadoras-coletoras mudam ao longo do tempo, porém trata-se de uma cultura que tende a ter mais estabilidade e mudanças menores devido ao ambiente em que estão inseridas.
- A pesquisadora diz que existem pesquisadores críticos da ideia de ter sociedades caçadoras-coletoras como modelo de organização humana predominante no passado evolutivo da nossa espécie. Alguns apontam para a facilidade humana de lidar com hierarquias complexas e que isso deve estar relacionado com um histórico humano nem tanto igualitário.
- Caio Huck Spirandelli, um dos entrevistadores, fala sobre adaptações físicas para a corrida, que estão de certa forma relacionadas às estratégias de caça de persistência e que dão força para a hipóteses de uma história cultural humana com forte raiz na organização social de caçadores-coletores.
- A pesquisadora Andrea Migliano, cita um estudo que fez onde encontrou, numa sociedade caçador-coletora, uma desigualdade de distribuição de recursos. Ela aponta que nessa cultura, indivíduos mais cooperativos gozavam de maior prestigio e tendiam a receber mais recursos, de forma voluntária, de outros indivíduos da mesma sociedade.
- A entrevistada reforça a ideia de que seres humanos são extremamente flexíveis culturalmente e que existem variações imensas pelo mundo.